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quarta-feira, 30 de março de 2011

O Vale da Busca

Em Nome de Deus,
O Clemente, o Misericordioso.
Louvores a Deus, que fez sair do nada o ser, que gravou sobre a tábua do homem os mistérios da pré-existência, que ensinou-lhe dos mistérios da elocução divina aquilo que ele não conhecia e tornou-o um Livro Luminoso para aqueles que acreditaram e se renderam; que o fez testemunhar a criação de todas as coisas nesta negra e ruinosa era, e, do ápice da eternidade, falar com voz maravilhosa no Templo Excelente: a fim de que todo homem possa dar testemunho – em si mesmo e por si próprio – no grau do Manifestante do Seu Senhor, de que em verdade não há Deus salvo Ele, e todos os homens possam assim alcançar o cume das realidades, até que nenhum deles contemple coisa alguma, seja o que for, sem nela ver a Deus.
 E louvo e glorifico o primeiro mar oriundo do oceano da Essência Divina, e o primeiro alvorecer que raiou no Horizonte da Unicidade, e o primeiro sol que se ergueu no Céu da Unicidade, e o primeiro fogo que se ateou da Lâmpada da Preexistência na candeia da singularidade: Aquele que era Ahmad no reino dos seres excelsos, e Maomé dentre a assembléia dos que estão próximos, e Mahmúd no reino dos sinceros... Por qualquer nome que quiserdes, invocai-O: Ele tem os mais excelentes nomes e nos corações dos que sabem. E sobre Sua casa e Seus companheiros haja paz abundante, permanente e eterna!
 Ademais, escutamos o que o rouxinol do saber cantou nos ramos da árvore do teu ser, e aprendemos o que o pombo da certeza arrulhou nos ramos do caramanchão de teu coração. Parece-me que inalei, em verdade, as puras fragrâncias das vestes de teu amor e atingi o verdadeiro encontro contigo, ao ler tua carta. E já que percebi a menção de tua morte em Deus e de tua vida através dEle, e de teu amor pelos amados de Deus e pelos Manifestantes de Seus Nomes e Pontos de Alvorecer de Seus Atributos – Eu, pois, revelo-te os segredos e resplandecentes sinais dos planos da glória, para te atrair à corte da santidade, proximidade e beleza, e te levar a uma condição em que nada vejas na criação salvo a Face de teu Bem-Amado, Alvo de toda a honra, e contemples todas as coisas criadas somente como no dia em que de nenhuma se faz menção. Sobre isso cantou o rouxinol da unidade, no jardim de Ghawthíyyih. Disse ele: Aparecerá sobre a tábua do teu coração um escrito dos mistérios sutis de: “Temei a Deus, e Deus dar-vos-á conhecimento”, e a ave da tua alma haverá de relembrar os sagrados santuários da preexistência e elevar-se-á, nas asas do anelo, no céu de “percorre os caminhos trilhados de teu Senhor”, e colherá os frutos da comunhão nos jardins de “Alimentai-vos, pois, de toda espécie de fruto.”
 Por Minha vida, ó amigo!fosses tu provar desses frutos do jardim verdejante, dessas flores que desabrocham nas terras do conhecimento, ao lado das luzes cintilantes da Essência nos espelhos dos nomes e atributos – o anseio arrancaria de tuas mãos as rédeas da paciência e do comedimento, faria tua alma vibrar com a luz cintilante e te afastaria do lar terreno, alçando-te à morada primaz, celestial, no Centro das Realidades, e elevar-te-ia ao plano em que flutuarias no ar assim como ondas sobre a terra, e te moverias sobre a água assim como corres sobre o solo. Portanto, que cause regozijo a Mim, e a ti, e a quem se eleva ao céu do conhecimento e cujo coração se haja refrescado por isso: o fato de haver o vento da certeza soprado sobre o jardim do seu ser, vindo da Sabá do Todo-Misericordioso.
 Paz esteja sobre aquele que segue o Caminho Certo!
 E mais: as etapas que marcam a jornada do peregrino desde a morada de pó até a pátria celestial são consideradas sete. Alguns as têm denominado Sete Vales e, outros, Sete Cidades. E dizem que enquanto o peregrino não se livrar do ego e não percorrer essas etapas, jamais alcançará o oceano da proximidade e união, nem sorverá do vinho incomparável. O primeiro é o
 
VALE DA BUSCA
O corcel desse Vale é a paciência; sem a paciência o peregrino dessa jornada não chegará a parte alguma e não atingirá nenhum alvo. Jamais deveria ele desanimar; ainda que se esforce por cem milhares de anos e, contudo, não logre contemplar a beleza do Amigo, nem assim deveria vacilar. Pois os que buscam a Caaba de por Nós, regozijam-se nas boas novas de: Em Nossos caminhos Nós os guiaremos. Eles, em sua busca, se têm empenhado fortemente em servir, procurando a todo momento viajar do plano da negligência para o reino do ser. Laço algum os há de impedir, nem conselho os deterá.
 Incumbe a esses servos purificar o coração – manancial que é de tesouros divinos – de toda a mácula, e afastar-se da imitação, a qual consiste em seguir nas pegadas dos pais e antepassados, assim como precisam fechar a porta da amizade e da inimizade para com todos os povos da terra.
 Nessa jornada, o peregrino alcança uma condição em que vê todas as coisas criadas vagando aturdidas em busca do Amigo. Quantos Jacós verá ele em busca de seu próprio José! Contemplará muitos apaixonados a se apressarem em busca do Bem-Amado; testemunhará um mundo de seres ardorosos buscando o Desejado. A todo momento encontra ele um assunto poderoso, a toda hora torna-se consciente de um mistério; pois já se afastou de ambos os mundos e partiu em direção à Caaba do Bem-Amado. A cada passo o apoio do Reino Invisível assisti-lo-á, e mais ardente se tornará sua busca.
 Deve-se julgar a busca pelo padrão do Majnún do Amor. Conta-se que, um dia, encontraram-no ocupado em peneirar o pó, enquanto lhe corriam as lágrimas. Perguntaram-lhe: Que fazes?, ao que respondeu: Busco Laylí! Ai de ti!, exclamaram-lhe, Laylí é de puro espírito e tu a buscas no pó! Disse-lhes: Eu a busco em toda parte; quiçá em algum lugar eu a posso encontrar.
 Sim, embora para os sábios seja vergonhoso procurar no pó o Senhor dos Senhores, isso, no entanto, indica intenso ardor na busca. Quem com zelo algo procura, haverá de encontrá-lo.
 O verdadeiro buscador nada procura senão o objeto de sua busca, e o apaixonado nenhum desejo nutre salvo a união com o objeto de seu amor. E jamais o buscador atingirá seu objetivo a menos que sacrifique todas as coisas. Ou seja, tudo o que tiver visto e ouvido e entendido deverá ser posto de lado, a fim de que ele possa entrar no reino do espírito, o qual é a Cidade de Deus. Esforço é mister se quisermos procurá-Lo; imprescindível é o ardor para podermos sorver o mel da reunião com Ele; e se desse cálice provarmos, rejeitaremos o mundo.
 Nessa jornada o viajante habita em todas as terras, reside em todas as regiões. Em todo semblante procura ele a beleza do Amigo; em cada país busca o Bem-Amado. Associa-se a todos os grupos e procura a companhia de cada alma, a fim de talvez poder descobrir em alguma mente o segredo do Amigo, ou em alguma face contemplar a beleza do Amado.
 E, se pela ajuda de Deus, encontrar nessa jornada um sinal visível do Amigo invisível, e inalar do mensageiro celestial a fragrância do José há muito perdido, entrará de imediato no  

VALE DO AMOR

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poema de Rumi

 
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

(RUMI)